Câmara aprova
novo índice de correção do FGTS.
Após
negociações com o governo, a Câmara aprovou na noite desta terça-feira, em
votação simbólica, o projeto que altera a correção dos depósitos do FGTS de
forma escalonada em quatro anos até alcançar a rentabilidade da poupança, a
partir de 2019. A princípio, o Palácio do Planalto trabalhou para que o projeto
sequer fosse votado. Diante de uma iminente derrota, decidiu negociar para que
a nova correção, que seria feita a partir de janeiro de 2016 pelo índice da
poupança, não fosse aplicada integralmente no próximo ano. Mas, segundo fontes
do Ministério do Planejamento, mesmo com as alterações no texto, o governo irá
tentar reverter a proposta no Senado ou poderá recorrer ao veto para
modificá-la.
Segundo
o relator do texto, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), a proposta da equipe
econômica foi de um escalonamento em 11 anos, mas o relator decidiu pelo que
considerou um meio-termo. Maia disse que não há radicalismo em sua proposta e espera
que não seja vetada:
—
Os cotistas não podem, sem o direito de dar sua opinião, continuar oferecendo
ao governo o subsídio que é injusto. Eu pergunto: quem é o gestor do FGTS?
Aplica seu dinheiro em TR mais 3%? Então, não é justo que o dinheiro dos outros
renda TR mais 3%. Agora, é claro, também não é justo que da noite para o dia
você dê a liberdade para que essas contas possam buscar a rentabilidade de
mercado.
Governo
queria prazo maior
Todos
os destaques apresentados na Câmara foram rejeitados e o projeto deve ser
enviado ao Senado, a partir de janeiro de 2016. Pelo texto, os novos depósitos
do FGTS terão correção monetária da Taxa Referencial (TR) mais 4% no primeiro
ano; 4,75% em 2017; 5,5% em 2018 e, depois disso, passarão a ser corrigidos pelo
mesmo índice da poupança, o que pode dobrar a remuneração atual do fundo.
Além disso, o projeto determina que 60%
do lucro efetivo do FGTS seja destinado a aplicações em habitação popular, o
que foi considerado uma vitória pelo líder do governo, José Guimarães (PT-CE).
Sobre o escalonamento, no entanto, Guimarães disse que o governo irá analisar
se vetará algum item, já que, segundo o petista, o governo trabalhava com a
perspectiva de uma graduação da correção em 8 anos.
—
O governo vai analisar os números e ver se sanciona ou veta, e em quais
condições isso será feito. Não foi um acordo de 100%, mas diria que de 80% —
disse Guimarães, que encaminhou voto favorável ao projeto, diante de dezenas de
integrantes da Força Sindical, que pressionavam pela aprovação do texto nas
galerias do plenário da Câmara.
Rodrigo
Maia afirmou que, desde a semana passada, tenta, junto ao presidente da Câmara,
Eduardo Cunha (PMDB-RJ), construir uma alternativa ouvindo o governo. Na manhã
de ontem, o relator se reuniu com o vice-presidente Michel Temer e com os
ministros Nelson Barbosa (Planejamento), Joaquim Levy (Fazenda) e Gilberto
Kassab (Cidades), para tentar avançar a proposta.
—
O trabalhador tem que falar também nesse debate, não é só o governo. De forma
nenhuma a nossa proposta tende a gerar prejuízo a qualquer tipo de
financiamento de projeto que o governo faz, seja no saneamento ou na habitação
— afirmou Maia.
O
relator explicou que a proposta inicial era garantir a rentabilidade da
poupança para 100% das contas. Mas, com as resistências do governo, ficou
definido o escalonamento.
—
Tenho certeza que o escalonamento dará ao governo condições, até porque eu
espero e confio no Levy, que a nossa taxa de juros possa cair no médio prazo.
Até por isso, colocamos a poupança como referência, e não colocamos a TR mais
6% — afirmou.
Demora
na negociação
O
governo decidiu aceitar um acordo com a Câmara para, segundo auxiliares
presidenciais, “minimizar o prejuízo”. O Executivo não queria nenhuma mudança
agora, em meio ao ajuste fiscal.
Atualmente,
o rendimento do FGTS é de 3% mais a Taxa Referencial. Pela proposta inicial,
defendida por deputados autores do projeto e o próprio presidente da Câmara, o
rendimento dobraria, alcançando mais de 6% ao ano.
Mais
cedo, Eduardo Cunha criticou o governo por demorar em negociar a proposta.
Mesmo depois de pedidos do Palácio do Planalto para que a votação fosse adiada,
Cunha manteve a proposta como primeiro item da pauta.
—
Coloquei na pauta. Não tem um cabo de guerra. Está lá como aconteceu com a PEC
443 que o governo votou para adiar e não conseguiu adiar. Eu não tenho cavalo
de batalha. O tema está lá, anunciado há muito tempo. O problema é que o
governo só resolve discutir o assunto de verdade quando faltam cinco minutos
para o time entrar em campo. Nunca discute quando você avisa que o jogo é daqui
a dois meses — disse Cunha, alfinetando:
—
Eles tendem a empurrar com a barriga. Se tivesse tido a boa vontade que estão
tendo hoje certamente a gente chegaria a um acordo.
Cunha
disse não ver problema em propor um escalonamento na correção, mas criticou a
proposta, defendida inicialmente pelo governo e que acabou excluída, de divisão
dos lucros do FGTS no lugar da correção dos novos depósitos pelo índice da
poupança:
—
Escalonamento? Sim. Não tem problema nenhum. Isto já vem sendo falado para mim
e para o Nelson Barbosa. Acho que qualquer tipo de solução que dê um pouco de
conforto a todos não é ruim. Tem uma divergência entre tratar sobre lucro e
tratar sobre aumento de taxa. Tratar sobre lucro é mais difícil, porque você
não controla o lucro. Quem coloca o subsídio para manter o lucro é sempre o
governo e o trabalhador não tem forma de se proteger. Agora, fazer a graduação
é razoável.
Fonte: O Globo, 19.08.2015
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